quinta-feira, 4 de abril de 2013

SANT´ANNA DA FEIRA – TERRA DE LUCAS



Devem estranhar o tempo sem notícias ou novidades... muitas coisas paralelas em andamento. Mas, deixemos de lamentos, vamos à Quermesse de Arlequim 22!

SANT´ANNA DA FEIRA – TERRA DE LUCAS
Marcos Franco é um artista que sempre me apresentou ótimos trabalhos, desde o seus tempos do fanzine Made In Bahia, em 1997. Pois em 2012, ele nos traz o álbum SANT´ANNA DA FEIRA – TERRA DE LUCAS, um álbum de quadrinhos (que os fãs da Marvel e DC chamariam de “Graphic Novel”) que é um verdadeiro resgate histórico.
O livro traz em suas 180 páginas a história verídica de Lucas da Feira, ex- escravo, bandido, justiceiro, guerreiro, anti-herói que conquistou respeito e temor pela região de Feira de Santana – Salvador – Bahia em 1840 – 1850. Em uma narrativa que traz variados “flashbacks”, vemos a trágica infância de Lucas, negro, escravo, foragido, tendo no roubo a possibilidade de viver. O racismo – exacerbado na época, e, apesar de velado, com igual intensidade nos dias de hoje - , o poder do cangaço, em impressionante paralelo com o tráfico das atuais grandes metrópoles, com sua visão própria de justiça. A opressão do estado, com o descaso com as classes mais baixas. Traição e honra lavada. O emprego da lei para motivos egoístas. Um retrato do Brasil atual, mas magistralmente resgatado na história.
O roteiro de Marcos Franco é belamente construído, com uma estupenda pesquisa histórica, fugindo de “partidarismos” e visões extremamente pessoais – no final do livro está presente a rica bibliografia – e emociona na crueza dos acontecimentos. Impossível não se revoltar no encontro de Lucas com o imperador D.Pedro II, onde, em um reflexo de nossa sociedade atual, o humilde representa o ladrão, e o historicamente registrado como inovador posa de tirano insensível ; uma belíssima desmitificação de personalidades.
A arte de Hélcio Rogério foi a escolha perfeita; segue a tradição de quadrinhos históricos brasileiros, de
Mozart Couto, das coleções de Histórias Maravilhosas da Ebal. O vocabulário deve trazer um pouco de dificuldade de compreensão ao distribuírem o álbum para outros estados, pois ele é intensamente regional. Há um glossário muito útil no final do livro, mas a imersão no vocábulo é uma experiência à parte, nos localiza no meio da mata de Feira de Santana do século XIX.
É um álbum que merece ser reconhecido e foi justamente premiado com o Ãngelo Agostini de 2010, como melhor roteiro e melhor lançamento. 

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