Devem estranhar o tempo sem notícias ou novidades... muitas
coisas paralelas em andamento. Mas, deixemos de lamentos, vamos à Quermesse de
Arlequim 22!
SANT´ANNA DA FEIRA – TERRA DE LUCAS
Marcos Franco é um artista que sempre me apresentou ótimos
trabalhos, desde o seus tempos do fanzine Made In Bahia, em 1997. Pois em 2012,
ele nos traz o álbum SANT´ANNA DA FEIRA – TERRA DE LUCAS, um álbum de
quadrinhos (que os fãs da Marvel e DC chamariam de “Graphic Novel”) que é um
verdadeiro resgate histórico.
O livro traz em suas 180 páginas a história verídica de
Lucas da Feira, ex- escravo, bandido, justiceiro, guerreiro, anti-herói que
conquistou respeito e temor pela região de Feira de Santana – Salvador – Bahia em
1840 – 1850. Em uma narrativa que traz variados “flashbacks”, vemos a trágica
infância de Lucas, negro, escravo, foragido, tendo no roubo a possibilidade de
viver. O racismo – exacerbado na época, e, apesar de velado, com igual
intensidade nos dias de hoje - , o poder do cangaço, em impressionante paralelo
com o tráfico das atuais grandes metrópoles, com sua visão própria de justiça. A
opressão do estado, com o descaso com as classes mais baixas. Traição e honra
lavada. O emprego da lei para motivos egoístas. Um retrato do Brasil atual, mas
magistralmente resgatado na história.
O roteiro de Marcos Franco é belamente construído, com uma
estupenda pesquisa histórica, fugindo de “partidarismos” e visões extremamente
pessoais – no final do livro está presente a rica bibliografia – e emociona na
crueza dos acontecimentos. Impossível não se revoltar no encontro de Lucas com
o imperador D.Pedro II, onde, em um reflexo de nossa sociedade atual, o humilde
representa o ladrão, e o historicamente registrado como inovador posa de tirano
insensível ; uma belíssima desmitificação de personalidades.
A arte de Hélcio Rogério foi a escolha perfeita; segue a
tradição de quadrinhos históricos brasileiros, de
Mozart Couto, das coleções de
Histórias Maravilhosas da Ebal. O vocabulário deve trazer um pouco de
dificuldade de compreensão ao distribuírem o álbum para outros estados, pois
ele é intensamente regional. Há um glossário muito útil no final do livro, mas
a imersão no vocábulo é uma experiência à parte, nos localiza no meio da mata
de Feira de Santana do século XIX.
É um álbum que merece ser reconhecido e foi justamente
premiado com o Ãngelo Agostini de 2010, como melhor roteiro e melhor
lançamento.
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